terça-feira, 19 de outubro de 2010

Religião, política e exploração da pessoa humana

Diogo Leão

Fato visível nestas eleições tem sido a estratégia que os candidatos José Serra e Dilma Rousseff tentaram usar para conquistar votos explorando a religiosidade do povo. Pudemos ver nas proximidades do dia 12 de outubro, dia em que os católicos brasileiros festejam Nossa Senhora Aparecida que tanto Serra quanto Dilma visitaram o santuário dedicado à santa. Santinhos com motivos religiosos foram impressos como propaganda de Serra e Dilma procurou reunir-se com líderes de cristãos popularmente conhecidos como “evangélicos”.
Os estudos de fenomenologia da religião, feitos pela linha filosófica que leva o mesmo nome, verifica que a religião é um fenômeno universal entre os humanos, que caracteriza a visão de mundo que este tem dividindo tudo o que existe entre sagrado e profano, e que conduz o homem por uma série de práticas que o leva à salvação de suas alienações.  As religiões também têm seus líderes que orientam as consciências de seus adeptos conforme suas doutrinas. Os homens são capazes de suportar grandes sofrimentos por causa de suas religiões até mesmo a morte.
Estamos em um momento novo da história da humanidade onde surgiu o estado laico, na maioria das civilizações e períodos da história o poder religioso esteve unido ao poder político, um dependia do outro. O surgimento do cristianismo, que praticamente surgiu como religião proibida, tanto no seu ambiente originário, pois eram considerados como blasfemos entre os judeus (pois diziam que Jesus era não só o messias, mas também Deus) e rebeldes entre os romanos (pois resistiam reconhecer o imperador como divino), aportou um novo comportamento religioso no ocidente, a religião para estes foi possível existir de forma independente do estado. Com o decorrer da idade média a influência política do cristianismo cresceu muito, diminuindo na idade moderna devido aos regimes absolutistas onde os monarcas tentavam dominar a religião e quase oficialmente terminada na idade contemporânea.
No entanto, a integridade de adesão de uma pessoa à religião é algo que não desapareceu. Na religião a pessoa movida pela fé, muitas vezes faz experiência de paz quando consegue identificar seus pensamentos e atitudes com a religião. No entanto algo antiético é explorar desta dimensão humana por parte de alguns para obter vantagens pessoais, usando não só a religião, como também as pessoas. E um retrocesso no progresso que a humanidade fez em conseguir viver a religião com liberdade, de forma independente do estado.
Por outro lado vemos também o fato de usar a religião como caminho fácil para apresentar valores, não necessitando recorrer a argumentações mais precisas. A falta de reflexão tende a apelar a motivos religiosos em temas polêmicos como aborto e união civil de homossexuais. Se alguém é contra o aborto ou à união civil de homossexuais tende a ser taxado imediatamente como religioso e que por isso em um estado laico não se deve levar em consideração a posição dela. Será que realmente só motivos religiosos levam a estas posições?

Nenhum comentário:

Postar um comentário